Mostra HQ Sesc em Pacoti
Estivemos na capital cearense dos quadrinhos e estamos felizes demais.
Olá, Avoantes!

No final do último mês, nos dias 28, 29 e 30 de novembro (2024), a Avoante esteve na Segunda Mostra HQ na cidade de Pacoti. A Mostra é uma iniciativa do Sesc com o objetivo de impulsionar a cultura das histórias em quadrinhos cearenses, celebrando seus autores, suas obras e, principalmente, sua História.
Durante os dias da Mostra, aconteceram paineis, palestras, oficinas, lançamentos, shows e uma banca conjunta de quadrinhos, a qual foi formada pela Reboot Comic Store, Fanzine e Avoante Editora.
Dentre as atividades da programação, houve destaque para a abertura da Exposição ao Mendez, cartunista e caricaturista, filho de Baturité, mas de renome nacional, sendo um dos mais importantes e referenciados ilustradores da História do país. O Ecomuseu do Pacoti, um dos parceiros e promotores do evento, por meio do historiador Levi Jucá e com apoio do Sesc, trouxe à cidade praticamente toda a obra do cartunista, o qual receberá um museu exclusivo. Quem esteve na Mostra, por sua vez, pôde conferir uma pequena porção desse acervo, que inclui ilustrações, caricaturas, pinturas, rascunhos, fotos e itens pessoais, como sua prancheta de desenho.
Além disso, houve também o lançamento do segundo volume da série DISCOnversando, desta vez com editorial de Raymundo Netto. O livro de luxo traduz, por meio de quadrinhos, as músicas do álbum Avallon, de Abidoral Jamacaru, músico do Crato e influente voz da cena musical caririense nas décadas de 1970 de 1980 — quando se cantava à vida e à resistência — e reuniu quadrinistas de todo o Estado, do Cariri a Fortaleza, grande parte dos quais estavam lá apresentando suas trajetórias e suas artes para a HQ. A Mostra ainda contou com um show especial de Abidoral e Luiz Carlos Salatiel, produtor do disco original.
Para brindar o evento, o autor Klévisson Viana recebeu o prêmio Luiz Sá por seus mais de 30 anos dedicados à cultura das histórias em quadrinhos cearenses.
AVOANTE + REBOOT + FANZINE
Numa parceria mais que especial, Avoante, Reboot e Fanzine estiveram na Mostra em uma banca conjunta, na qual quadrinhos cearenses eram vendidos e promovidos pela Avoante e Fanzine e Reboot encarregavam-se das HQs de outras paragens e itens outros relacionados.
Além disso, nosso editor, Luís Carlos Sousa, foi responsável pela oficina “Escrevendo Imagens”, na qual envolveu jovens na milenar arte de contar histórias através de imagens. Luís e Érika Sales, nossa administradora, também tiveram a chance de apresentar a Avoante Editora para os artistas e interessados que lá estavam, sua missão, valores e os próximos projetos.

Para finalizar, foi realizado o lançamento da quinta edição da série Estalos! A Canção da Serra, com história e desenhos de Raquel Silva e que se passa em Pacoti — a cidade inspirou e se tornou cenário para a HQ. Raquel também foi responsável por uma oficina de quadrinhos e, assim como em sua obra, procurou evocar toda a magia e encantamento da cidade para seus alunos. Um momento único.
A Mostra HQ de Pacoti, que passará a ser anual, é uma pérola na História das HQs Cearenses. Isso porque ela promove os encontros — todas as pessoas artistas que estiveram no evento, algumas se encontrando pela primeira vez, viram-se como iguais, independente se tinham 30 ou 3 anos de carreira. O coleguismo e o aprender com outro (sejam coisas do ofício, sejam experiências de vida) eram os itens que nortearam as relações e todas as reuniões e ajuntamentos. “Falas e escutas” foram celebradas e reforçadas por meio dos fazeres e dos risos — um forte sentimento de identidade cearense começou a ser construído no evento e nos encheu de esperança para ser multiplicado muito além dele. Esse tipo de manifestação é consoante com tudo o que a Avoante representa, assim, Pacoti 2025 já está em nosso calendário… e em nossos corações
O CEARÁ ALÉM DE FORTALEZA - palavras do Editor
Eu morei cerca de 10, 12 anos no município de Crateús, localizado a oeste do Estado, próximo ao Piauí, área de influência do rio Poti, um dos mais importantes do Ceará. No tempo em que morei mais ao sertão, tive a sorte de conhecer várias outras cidades: Tamboril, Ipu, Ipueiras, Novo Oriente, Independência, Nova Russas, Carnaubal, Guaraciaba… seguindo até Juazeiro e Crato. Dessa época, eu recordo o sentimento de “enormidade” Cearense — do sertão à serra, havia um senso de sermos todos “um povo”. Em nossas multiplicidades, havia uma “cor”, um “falar”, que nos tornava iguais.
Quando voltei a Fortaleza, esse sentimento foi aos poucos se desvanecendo. Meu falar interiorano foi sendo trocado pela pressa da capital — às vezes por conta dos risos de colegas e de um ou outro “matuto” dirigido a mim — e pela constante necessidade de sair daqui, de ir mais longe, de ir além mar, além ar, além além além.
Quem é/vive em Fortaleza reconhece o sentimento: que estamos sempre de passagem, que esta cidade é uma grande preparação para um outro momento em outro lugar — talvez por isso somos os melhores no ENEM? Por que queremos sair e, para tal, devemos sim ser os mais inteligentes e preparados? — um momento melhor, um lugar maior… Fortaleza tem 298 anos, aproximadamente 2.500.000 habitantes, mas olhamos pra ela e dizemos “é pequena”.
Em Pacoti, eu tive a chance de conhecer pessoalmente o Paulo Bruno — um artista que acompanho nas redes e por quem nutro uma admiração imensa. Eu vi a gentil face de Paulo, um quadrinista gigante por natureza, e eu revi o Cariri de minha infância — da mesma forma que as tiras dele fazem comigo — também tive a chance de rever a Janaína Esmeraldo, a “Cabelo Nuvem”, e ouvir dela “Minha família é de Pacoti”, quadrinista e professora por excelência, hoje vive em Recife, mas possui aquele sorrisão de “nação cearense”, aquela cor de Ceará no brilho dos olhos.
Éramos alguns poucos na Mostra de Pacoti, mas representamos tantos — outros tantos poderiam/poderão estar ali: pessoas queridas de Itapipoca, de Limoeiro, de Sobral, do próprio Crateús — o evento me lembrou da imensidão da nação Ceará, das nossas histórias, costumes, tradições, falares, cores — da importância desse estado gigante, de sua identidade que é ainda maior e marcante. Pacoti me lembrou nosso tamanho, do peso de nossa História.
Sou filho de Fortaleza. Amo a cidade com a mesma força que a questiono, por isso sei que ela se apequena quando se fecha em si mesma e fica encantada por tudo que vêm do mar. Apelo, então, às pessoas da capital, artistas principalmente: deixemos o interior de nosso estado nos desbravar: vamos nos encher e honrar essas origens. Façamos, inclusive, de forma justa: é preciso vivê-lo, não simplesmente pegar algo do sertão ou das serras ou das praias e trazer à capital, ou mesmo “reformar” o que não precisa de reforma. Lembremos que o Ceará é muito mais que nossa amada capital, quem sabe assim percebamos que não será necessário ir pra fora do estado para sermos reconhecidos e celebrados dentro dele.
Em Pacoti percebi que Luis fala tão bem quanto escreve... Que texto lindo! Obrigado pelas palavras, foi um prazer e de uma inspiração imensa te conhecer! 💭